Demasiadas Vezes


Quando chego a casa
Pergunto-me se acertei na porta
Ou se me distraí ao admirar a asa
Dum avião numa queda livre e solta?

Sou quase independente
E já não me isolo tanto
Mas ainda tenho uma alma impertinente,
Que me rapta para horas de encanto.

Às vezes não sei como distinguir
O aborrecimento da vontade de fugir,
Como esconder a desorientação
Nos monumentos de sacrifício que tenho no coração

Às vezes esqueço-me de onde deixei o amor
Da última vez que precisei dele para aliviar a dor,
Provavelmente esqueci-o nas prateleiras
Duma rotina de exaustão e olheiras

Há vezes em que chego ao nirvana sem reparar,
Quando não tenho mais nenhum comboio por que esperar
E a saudade de tudo parece dormente,
Mesmo ouvindo o passado num cantar latente.