Caça às Bruxas


1
Em Sintra,
Andava só de correntes.
Frio que batia dentes,
A chorar por aí.

2
Pediram-me que fosse à cidade por dinheiro,
Aprender a sentar-me à mesa como engenheiro.
Apanhei um comboio sem estação nem apeadeiro
Sem combustível, era movido a desvaneio.

Na cidade, sujava roupa com esforço de trabalho.
Caçava as bruxas do meu sótão assombrado,
Que ocupava com um salário bem amealhado
Para ocupar o espaço de um sonho fascinado.

Para quem disse que iria ao fim do mundo por um sonho,
Levou só uma viagem suburbana para me perder em ouro.
O apocalipse deve começar dentro de poucos segundos,
Num sótão em Sintra, onde sem querer fiquei mudo.

3
Em Sintra,
Luto só comigo mesmo,
Sonhava como um doente,
A cansar-me por aí.

4
Eu achava
Que caçava bruxas,
Mas cacei os meus sonhos.