1
Sem saber saiu cá
para fora,
Agora sente frio
e chora,
Onde a procura se
demora
E para o amor não
há hora.
A sua dor não
tinha morada
Era igreja
bombardeada.
E sempre assim tão
maltratada,
Confundia amor
com tourada.
2
Colocou o que
mais lhe doía
Na frente da guerra
que vivia.
Para dormir uma
noite fria
Sozinha só para
quem a via.
Ela só rezava e
pedia
Por um surto ou
epidemia,
Para viver numa
noite fria
Sem amor alheio
que temia.
O seu suspiro era
ofensa
E soprava ventos
por defesa.
Queria no frio
recompensa
Para uma solidão
imensa.
Só queria no frio
encontrar
Uma razão para
não congelar.
Por o amor só a
saber queimar
Virou ártico à
beira do mar.
3
Assim, sem morada
e sem calor
Que só distraísse
aquela dor,
Na sua mão nunca
coube amor
E no coração
nunca houve cor.
Mas sozinha nunca
aquecia.
Com o tanto que
se protegia,
No fim, na mão só
lhe caberia
Um coração com
hipotremia.
Epílogo
Somos frios por
não saber porque viemos aqui parar,
Guerreamos quando
com fé o procuramos justificar,
Destruímos quando
para sempre queremos durar.
Somos filhos da
vida, sem nunca a conseguir orgulhar.