"GELO" - OS FILHOS DA VIDA, CAP. III


1
Sem saber saiu cá para fora,
Agora sente frio e chora,
Onde a procura se demora
E para o amor não há hora.


A sua dor não tinha morada
Era igreja bombardeada.
E sempre assim tão maltratada,
Confundia amor com tourada.

2
Colocou o que mais lhe doía
Na frente da guerra que vivia.
Para dormir uma noite fria
Sozinha só para quem a via.

Ela só rezava e pedia
Por um surto ou epidemia,
Para viver numa noite fria
Sem amor alheio que temia.

O seu suspiro era ofensa
E soprava ventos por defesa.
Queria no frio recompensa
Para uma solidão imensa.

Só queria no frio encontrar
Uma razão para não congelar.
Por o amor só a saber queimar
Virou ártico à beira do mar.


3
Assim, sem morada e sem calor
Que só distraísse aquela dor,
Na sua mão nunca coube amor
E no coração nunca houve cor.

Mas sozinha nunca aquecia.
Com o tanto que se protegia,
No fim, na mão só lhe caberia
Um coração com hipotremia.

Epílogo
Somos frios por não saber porque viemos aqui parar,
Guerreamos quando com fé o procuramos justificar,
Destruímos quando para sempre queremos durar.
Somos filhos da vida, sem nunca a conseguir orgulhar.