Orquestra Sinfónica

A rua era estreita mas esse era o facto,
A audiência era cega, mas adorava o ato:
Aplaudia a fervência de não saber o que fazer
Com ignorância de nunca nada compreender.

Mas esse era o fim.

As vendas eram feitas oferendas para o bem do espetáculo,
A sua importância era apenas compreendida por quem lia o oráculo.
E quando a cegueira era feita roupa suja em corpo cansado,
A primeira melodia ressoava num ouvido mal informado.

Desfilavam pela rua, arrastando aço pelos pés:
Bem dita seja a prevenção para o próprio egocentrismo.
Cordas para os corruptos e teclas para os das fés.
Esmagavam os dedos da audiência com metais e magnetismo.

Eram notas que não sabiam produzir,
Mas não importava, ninguém iria reprimir.
Pois construíram o único lugar
Onde se podiam fazer ouvir.

A precursão descoordenada nas mãos sangrentas de conservadores,
Porém procuravam acompanhar a miserável epifania dos colegas trabalhadores,
Copiavam passo a passo, as notas que nunca saberiam reproduzir,
Não sabendo como, eram encarregados de gerir.

O vandalismo foi o último ato,
Pisaram-lhes os pés, roubaram a comida do prato.
A cortina fechou-se e as vendas foram feitas uma memória,
Assim desapareceram com consciência de glória.


E contava muito mais, se também não fosse cego e tivesse memória.