Gravei cada som no meu percurso desde o ventre até este
poema,
Cada passo deslumbrado num enredo
Pronto para encher os anfiteatros de solidão histérica,
De cumplicidade magnética,
De júbilo feérico,
Ou de desespero patológico.
E estas palavras bonitas que não estavam grafitadas nos meus
pés,
Nos ambíguos momentos em que esmaguei a terra laborada pelos
meus avós,
E os homens antes dele, os que vieram antes deles –
Estas palavras, gravei-as também.
Gravei o toque da língua nos dentes,
Que os lábios da minha mente entoaram ao recitá-las.
Gravei o eco dos seus suspiros,
Quando exclamaram as suas letras, no cansaço do esforço.
E gravei os seus sufixos idióticos,
Desmanchados numa quase nula vontade de falar,
Mas vontade ainda,
Para que não me esquecesse do que dizer.
E patrocinei a grande obra final para as apresentar a um
mundo não tão simpático.
Colei os sons a cuspo de tanto os repetir,
E orquestrei a sinfonia que os virilizou num mundo não tão
simpático.
Talvez não tivesse havido sentido nisto tudo.
Quando a última palma soou na apresentação da minha vida,
E os ecos me eram devolvidos, vez após vez,
Para me lembrar que a minha obra havia terminado,
Talvez não tivesse havido sentido nisto tudo.
Até que a luz do gravador se apagou.
Por entre as cores de uma plateia de uma palete delas,
Havia sido gravada a sinfonia orquestrada por mim,
Junto com cada passo que havia levado o seu engenheiro,
Desde o ventre que o pariu,
Até àquele anfiteatro de solidão histérica,
De cumplicidade magnética,
De júbilo feérico,
E de desespero patológico.