Créditos Finais

Eu quero que os créditos finais do meu filme sejam a dançar uma música foleira numa discoteca, a olhar os rostos de todos aqueles que me importaram alguma vez na vida. E, Jesus, a música será horrível. E, Jesus, como eu odeio discotecas. Mas, assim, talvez poderei rir de toda a grande merda que fiz na minha vida e perceber que jamais conseguiria acabá-la com um Waters ou um Plant na banda sonora.

Mas, se a minha vida correr bem, talvez o faça num bar pequeno, mesmo no beco do bairro. Aquele do qual só se ouve falar em frases onde as palavras “violência” e “narcóticos” estão presentes em simultâneo. Nesse caso, chamarei as criaturas do jazz para obrigarem os meus pés a desenhar obras de arte no chão enquanto dançam. Assim, quem sabe, poucos serão os sonhos que terei guardado para o cemitério.

De qualquer forma, seguramente contarei com a destilação de uma amigável quantidade de vinho. Apenas para que tudo seja lento o suficiente para ainda fazer um poema, antes que as minhas veias desagúem no chão e a minha vida se evapore nas mãos de Jesus Cristo.

Sim, exatamente, quero morrer em câmara lenta. Desse modo, os meus créditos finais poderão ter os nomes de todos os cabrões que anotaram os meus sonhos em pedaços de papel e os lançaram ao fogo. Apenas queriam ver como cozia o meu corpo na chama de cada vontade que não cumpri.

De qualquer forma, a verdade é que de nada vale um bom filme, se o final não valer um Santo Graal de Jesus Cristo. E, por essa, razão, talvez me engasgue com um grande trago de Vinho do Porto, enquanto este desliza por uma gargalhada imensa, nuns pulmões já fracos. E, se tudo correr bem, morrerei então num riso sem término. Se tudo correr bem.