Talvez agora que sou um adulto,
O mundo me começará a pertencer um pouco mais.
Talvez agora que o aborrecimento me constrói a rotina,
Eu entenderei a mágia de não ter qualquer magia.
Talvez agora que me desperto pela mesma razão que os demais,
E me deito com o mesmo fim que toda a gente,
Me encaixarei um pouco melhor no molde do mundo –
Só espero que não doa quando couber no meu lugar.
Sempre me perguntei como seria algemar uma alma,
Prendê-la com um material que não conheço e dizer “Não
sonharás mais”.
Sempre me perguntei se era assim que eles reuniam as suas
fortunas,
Colecionando rios de algo que é igual a toda a gente.
Sempre me perguntei se era assim que se tornavam todos tão
iguais,
Acorrentando a força dos seus sonhos a um pedaço de nada
E deixando que se dissolva como sal em água,
Para que seja mais fácil engolir a realidade, sem palavras
por gritar.
Talvez agora eu aprenda a dissolver os meus gritos e os meus
sonhos,
Talvez agora eu sinta o sabor salgado do conformismo.
Talvez sim, mas espero que não.
F Miguens