contradigo-me mas nao ponho acentos

sei que nao deveria beber cafe,
mas nao há muito mais que me deixe desperto.
e também sei que nao deveria violar o relogio
com um olhar estimulado que nao se dissolve.

contudo, não sei se sao as horas que passam depressa
ou se sao os meus olhos que ja nao veem,
mas a cada momento desespero mais,
certo de que este café é temporário.

e que, mesmo nao gostando do sabor,
nao quero que termine nunca.
nao quero voltar à necessidade de o ter.
nao quero voltar à saudade do amargo
e do doce que vem sempre depois.

nao quero voltar,
mesmo sabendo que nao há nada que queira mais.
nao quero voltar aos teclados com acentos,
mesmo querendo que me leiam na perfeicao.

quero o longe e o perto
sentados, cada um do meu lado,
platonicamente proximos um do outro,
com a minha cabeca que nao sabe tomar decisoes
no meio do dois condenados.

quero continuar escondido,
na boca de um mundo esfomeado,
quero que me encontrem,
para que também saiba onde estou.

quero tudo.
mas agora, só tenho café.