Casa de Gelo

Conto os compromissos,
Em mil cálculos precisos,
É a álgebra dos meus amigos,
Família e dos delírios.
Deixo os números derreter
em frio suor de entardecer,
Na minha pele a morrer
De fome de conhecer.


Porque fácil é estar longe,
Em longura de nunca estar,
Difícil é ser nau sem popa
Sem poder de navegar.
E naufrago neste conto
De nunca querer voltar,
Porque o meu passado está a ponto
De nunca me lembrar.


Quis pegar fogo a uma casa de gelo,
Ver a frieza derreter em maresia sem apelo,
Gelada, cruzada, com a esperança fracassada,
Engoliu-me num abraço de textura enfeitiçada.
Respirar é uma lenda para quem queima o passado,
O fumo acomoda-se num pulmão amaldiçoado.
Para te lembrar da cinza que viveste e temeste
Até ao dia em que a derreteste,
Com a casa de gelo.