1
Não sei porque me grita o mundo,
Se insisto em nunca lhe dar resposta.
Não sei porque se acha minha mãe,
Para me dar tareias que não me esqueço.
2
Não sabe que sou eu que o deixo num berço adormecido,
Enquanto me escondo em vocabulários em que não sou
entendido?
Não sabe que sou eu que lhe minto quando não o amo sem dizer,
Senão em poemas solecistas que nunca o deixo ver?
Não sabe que sou eu que sou criança em correria,
Pelos seus enormes braços até que me acabe a energia?
Não sabe que sou eu que o mato aos poucos, sem querer,
Sempre que tira um pouco mais de mim, por não me entender?
3
Nunca me vê quando sou um anão de poucas palavras,
Acumulando folhas rasgadas,
Hibernado do Inverno das palavras frias que me cospe sem
pensar.
Nunca me ouve quando sou um trovador de voz feia,
Cantando canção e meia,
Libertado pelo desprezo que conserva no meu sonhar.
4
Dizem que sabe tudo,
Mas mesmo eu, mamífero alienado em órbitas perdidas,
Conheço melhor o mundo que ele se conhece a si.
E, por isso, o mundo nunca sabe de mim.